Comum na urbanização de cidades brasileiras desde a década de 1950, a Tipuana se mostrou...
Leia maisEsta Árvore pode Ajudar São Paulo a Suportar o Futuro Climático
- relc
- setembro 17, 2024
As cidades devem fazer adaptações com urgência para as mudanças climáticas em curso. Ambientes urbanos sofrem especialmente com os extremos de temperatura, com secas e ondas de calor devido à aglomeração populacional e ao declínio dos espaços verdes permeáveis. O reflorestamento urbano é uma das principais ferramentas das chamadas Soluções Baseadas na Natureza para atenuar estas condições, mas isso tem que ser muito bem planejado. Uma das variáveis são as espécies escolhidas, que precisam ter resistência ao estresse fisiológico imposto em grandes centros.
A Tipuana tipu é uma árvore típica do norte da Argentina e sul da Bolívia, que foi introduzida em cidades brasileiras a partir da metade do século 20 e foi analisada por um grupo de pesquisa do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP. A espécie demonstrou alta tolerância ao estresse e pode ser bem-sucedida em promover a resiliência na cidade de São Paulo diante do aquecimento global. No estudo, foram observados os anéis de crescimento da árvore, que mostram cada ano de sua vida. No período de 2013 e 2014, marcado por uma seca extrema e até mesmo racionamento de recursos hídricos, o esperado seria um atraso no crescimento, mas a espécie mostrou um aumento na taxa.
“Queremos compreender como podemos usar a arborização da melhor forma possível para adaptar a cidade às mudanças climáticas. Como a gente pode construir florestas urbanas que sejam resilientes”, explica o biólogo Giuliano Locosselli, do Cena e primeiro autor do trabalho. A espécie está entre as três mais comuns na cidade e região metropolitana. A equipe analisou unidades do polo petroquímico Capuava, em Santo André e Mauá, e em São Paulo, do Parque Santa Amélia. Em ambos, o crescimento foi comprovado pela maior taxa de fotossíntese, processo de produção de energia necessária para a sobrevivência das plantas, resultando na maior concentração de carbono, um dos benefícios que ela proporciona.
A análise foi feita de forma não destrutiva, evitando que alguma árvore tivesse que ser derrubada. Por meio de um trado de incremento, um tipo de sonda, foram retiradas amostras de 5 mm do tecido. “Sabe quando estamos doentes e temos que fazer uma biópsia, tirar um pedacinho do tecido para analisar? Foi isso que fizemos com a planta”, explica Giuliano. Além do impacto da seca, também foi possível analisar o comportamento interno da espécie, incluindo os isótopos estáveis de carbono, usados para acessar a contribuição relativa de plantas que realizam a fotossíntese.
“O trabalho que o Giuliano desenvolveu trouxe coisas incríveis”, ressalta o professor Marcos Buckeridge do Instituto de Biociências (IB) da USP e orientador do estudo. Foi possível constatar mudanças históricas, como na composição da poluição do ar após a proibição de adição de chumbo na gasolina, em 1989. Ainda mais específico, também constatou-se as diferenças que a mudança da direção dos ventos, ocorrida em 2006, causou na Tipuana. “Todas as variações nos anéis de crescimento de árvores são fundamentais para a gente entender o passado, e aprender com as lições para olhar para o futuro”, completa o professor.
Para saber mais, inclusive sobre a inserção da Tipuana na urbanização, acesse: https://jornal.usp.br/ciencias/esta-arvore-pode-ajudar-sao-paulo-a-suportar-o-futuro-climatico/
Imagem de Felagund por Wikimedia Commons
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